Os últimos dez minutos da aula de Yoga são os mais esperados pelos alunos. Destinados ao relaxamento final, nesses instantes somos orientados a simplesmente não fazer nada. Depois de uma longa prática em que lançamos mão do esforço sobre nós mesmos (tapas) para alongar o corpo, tonificar os músculos, torcer, esticar, ficar de cabeça para baixo, finalmente chega o momento da não ação, da imobilidade e da entrega total do corpo físico. Por isso finalizamos a prática na posição do “morto”, em sânscrito savásana. Segundo Iyengar, savásana é a observação da entrega do ego. Para ele, um bom savásana deve despertar um profundo sentimento de paz e graça.
Mas será que é tão fácil assim se entregar, sem resistências? Entregar os músculos físicos e também os psíquicos – expectativas, pensamentos, emoções? A maioria de nós foi educado para alcançar objetivos e realizar sonhos. Isso pode ser muito positivo. Mas acontece que muitas vezes nos vemos travando uma verdadeira guerra e já perdemos de vista há muito tempo qual o objetivo de tanta luta. E com esse ideal do controle e da conquista tão arraigado em nossas mentes, a entrega é confundida com desistência, e deixar as coisas acontecerem naturalmente se torna sinônimo de passividade.
Numa época de chuva, há alguns anos atrás, eu descia o rio cipó em um desses botes infláveis de rafting com uma turma de amigos, quando fui surpreendida por um refluxo d’água. O bote virou e eu me vi afogando em uma espécie de redemoinho que me empurrava violentamente para o fundo do rio. Quanto mais eu lutava para subir e respirar, mais água engolia. No auge do desespero, quando não me restava mais nenhuma força, fui obrigada a ceder. Sem escolhas, me entreguei – “que seja feita a Vossa vontade.” Nesse momento, um pequeno milagre aconteceu: a água me engoliu para o fundo do rio e lá embaixo a ação do refluxo era inexistente. Naturalmente a correnteza foi me levando à superfície. Além de um grande susto, o incidente me deu a certeza de que a entrega é o atalho mais curto para superar a frustração de querer controlar o incontrolável.
Mais do que um simples momento de relaxamento, o savásana nos ensina a renovar a compreensão da necessidade da entrega. Um momento libertador que guardamos para que a Vida manifeste a sua própria força. Essa breve pausa nos ajuda a descansar o corpo e a mente, para que prossigamos nosso caminho um pouco mais inspirados.